Internacional x Corinthians e o gol contestado pelo Ministro Alexandre de Moraes do STF na final de 1976

O Ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral  (TSE), em entrevista no último domingo (2), declarou que contesta até hoje o gol feito pelo Internacional contra o Corinthians na final do Campeonato Brasileiro de 1976.

Ao ser perguntado pelo jornalista Paulo Roberto Netto do UOL sobre as estratégias do TSE a respeito dos possíveis questionamentos ao resultado das eleições após a totalização dos votos,  Alexandre de Moraes disse:

Sou corintiano, como todos sabem. Até hoje eu contesto a vitória do Internacional contra o Corinthians em 1976. Aquela bola que bateu na trave e bateu fora e foi dado gol. Eu contesto até hoje, só que eu fico com a minha contestação para mim mesmo. É assim que o Tribunal Superior Eleitoral vai tratar quem contestar as eleições”.

A disputa

Naquele ano, o Campeonato Brasileiro foi disputado de 29 de agosto até 12 de dezembro. A fórmula de disputa era bem diferente dos pontos corridos. Aliás, ano após ano, os dirigentes e a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) faziam alterações. A competição também era chamada pela imprensa de Copa Brasil-76.

Internacional x Corinthians e o gol contestado pelo Ministro Alexandre de Moraes do STF na final de 1976
Reprodução jornal A Tribuna (SP), 12/12/1976.

Na primeira fase as equipes foram divididas em seis grupos com nove participantes cada. Os times jogavam entre si, em turno único. O Internacional do técnico Rubens Minelli ficou no Grupo A e se classificou em primeiro para próxima etapa da competição. Já o Corinthians treinado por Duque estava no Grupo C e também se classificou em primeiro lugar. A esta primeira fase seguiram-se ainda mais duas fases, a semifinal e a grande final marcada para o 12 de dezembro.

O Corinthians chegou à final depois de empatar com o Fluminense por 1 x 1 no Maracanã. Nos pênaltis, passou o Timão do 4 x 1. Esse é o famoso jogo da invasão corintiana ao Rio de Janeiro. Já o Internacional derrotou a equipe do Atlético Mineiro por 2 x1 no Beira-Rio.

A movimentação das equipes e torcidas

Embora em grande número, os corintianos não conseguiram repetir a invasão da semifinal à cancha porto-alegrense. A cobertura da imprensa para aquele jogo deu conta de que Vicente Matheus, então presidente do clube, estava ainda com cerca 1500 ingressos disponíveis no desembarque na capital gaúcha.

Pelo lado do Internacional, o sempre alegre Dario, o Dadá Maravilha, não estava para brincadeiras. Ao término do jogo no Maracanã havia prometido um gol para o carnaval. Mas durante a semana não falou mais no assunto, não provocou a zaga corintiana e nem prometia gols. Mas apresentou um samba para a grande final:

“No Mineirão, no Morumbi, no Maracanã, no Beira-Rio
Em todo Brasil conhecem no nome de Dario
Todos falam que ele é trombador
Mas no Brasil ele é o maior goleador”

Inter 2 x 0 e o gol de Waldomiro

No primeiro tempo, Dario abriu o placar para o Internacional. Na segunda etapa da partida, Waldomiro chuta e a bola bate na trave, entra e volta novamente nas mãos do goleiro Tobias. Os corintianos não aceitaram a validação do gol pelo árbitro Valquir Pimentel e bloquearam a saída de bola para o recomeço da partida. Vicente Matheus disse à época que “o juiz não podia marcar aquele gol, a bola bateu no chão. Não se dá um gol destes”.

A torcida também começou a atirar fogos e garrafas contra o assistente Luiz Carlos Félix. O jogo ficaria interrompido por 25 minutos. Parecia que o Inter havia sentido a pressão. O Corinthians teve ainda duas boas chances de marcar e empatar. Após a partida, Frederico Balvé, presidente do Inter atribuiu os incidentes da torcida corintiana ao presidente Vicente Matheus que, mesmo antes do início da partida, fazia exigências quanto aos ingressos disponibilizados para a torcida do Timão.

Em entrevista para o jornal A Tribuna, de Santos, o ex-capitão corintiano Cláudio, que estava no último título paulista conquistado pelo Timão em 1954 – o Campeonato do IV Centenário – disse que o time havia jogado bem. Conseguiu até melhores chances do que o Inter. Ressaltou, entretanto, que o técnico Duque poderia ter avançado mais a equipe no primeiro tempo. Mas via o gol de Waldomiro como normal.

Dario, do Internacional, foi o artilheiro da competição e escolhido o melhor jogador da final. Emocionado, Dadá disse que sempre foi goleador, “mas o melhor em campo é a primeira vez. Jogando entre tantos craques, uma escolha destas é demais para mim”.

Internacional e Corinthians foram os representantes brasileiros na Copa Libertadores da América de 1977.

Em um tempo em que nem se sonhava com o VAR o Corinthians esperaria mais um ano para sair de uma fila incômoda. Em 1977, contra a Ponte Preta, conquistaria o Campeonato Paulista, com gol Basílio. Já o primeiro brasileirão veio em 1990, na vitória contra o São Paulo, na final do Morumbi lotado, por 1 x 0, gol de Tupãnzinho.

Escalações

O internacional jogou com Manga; Cláudio, Figuerôa, Marinho e Vacaria; Caçapava, Batista e Falcão; Waldomiro, Dario e Lula.

O Corinthians entrou em campo com Tobias; Zé Maria, Moisés, Zé Eduardo e Vladimir; Givanildo, Russo e Neca; Vaguinho, Geraldo e Romeu.

Ficha técnica

  • Jogo: Internacional e Corinthians
  • Horário: 17h (horário de Brasília)
  • Local: estádio Beira Rio
  • Competição: Copa Brasil-76
  • Rodada: Final
  • Árbitro: Valquir Pimentel (RJ), Luiz Carlos Félix (RJ) e José Roberto Wright (RJ)
J. A. J. A.

Consumidor do jornalismo esportivo desde os anos 1980 quando conheci a revista Placar e vi pela primeira vez a Copa de 86. De lá para cá acompanhei campeonatos regionais, nacionais e sul-americanos, vendo ao vivo, nas madrugadas de dezembro na Band, os dois mundiais do São Paulo F.C. e a diversidade dos jogos olímpicos. E como não falar das resenhas esportivas de domingo à noite!

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