Filha de Pelé revela última conversa com o Rei do futebol; confira

O dia 29 de dezembro de 2022 pode ser considerado um dos mais tristes da história do futebol, pois nele faleceu Edson Arantes do Nascimento, o eterno Rei Pelé. Sendo assim, uma das filhas do lendário jogador se manifestou sobre sua última conversa com o seu pai, abordando diversos temas sobre a vida entre ambos.

Filha de Pelé se pronuncia sobre após a morte do pai

Nesta sexta-feira (12) completou 134 dias que, Flávia Christina Kurtz, filha de Pelé, escutou as últimas palavras do pai. Flávia nasceu em São Paulo, em 6 de janeiro, de 1970, ano do tricampeonato mundial do Brasil e de Pelé. Fruto de uma relação dele com a gaúcha Lenita Kurtz, ela foi criada em Porto Alegre pela mãe e pelo padrasto Juarez Carvalho.

Em entrevista à ESPN, Flávia comentou que somente aos 17 anos é que conheceu a verdadeira história sobre seu pai biológico. Três anos depois, após sua tia Elizabeth ter encaminhado uma carta para Pelé revelando o segredo, causando o encontro entre pai e filha, pela primeira vez.

O primeiro encontro foi na [Alameda] Jaú [em São Paulo]. Na época ele trabalhava com o Samir [Abdul Hak], que era sócio e empresário dele. Eu entrei [no apartamento], e ele estava na copinha. Meu pai sempre foi de fazer que não tem nem aí, mas ele está aí. Aí fui para a Copinha e dei um abraço nele. Ele tremia, eu tremia, e começamos a conversar. Ele tinha uma gravação na USP, me levou junto e chegou falando: ‘É minha filha, é minha filha’. Meu pai era muito assim. Soltava a bomba e sumia. No dia seguinte ele falou: ‘Vamos conhecer seus avôs’, e fui conhecer a vó Celeste e o vô Dondinho. Foi isso. Muito simples”, disse Flávia à ESPN.

Flávia também comentou sobre a última interação com o seu pai, antes do falecimento.

Vou contar uma coisa. Meu pai morreu comigo, né? Dos filhos, eu era a única filha que estava com ele [naquele momento], e ele foi embora segurando minha mão”, disse Flávia, chorando.

Sempre [conversamos] muito na brincadeira, né. Nos últimos dias… quando a gente teve a notícia que não teria mais jeito, em 23 de dezembro, porque ele teve uma infecção generalizada que atingiu o rim…. Ele só tinha um rim, e foi esse o grande problema. Era um corpo com câncer, debilitado e que não teve forças para lutar contra aquele invasor. Dia 23 os médicos falaram que não tinha mais jeito. Perguntamos: ‘Não tem uma hemodiálise que ele poderia fazer?’ ‘Não, não tem’. Eles tinham dado 36 horas que ele poderia falecer. Então, em tese, seria no Natal. A gente era muito palhaços. Então, eu falava, ‘Pô pai, você vai embora e vai atrapalhar o aniversário de Jesus? Vai chegar em grande estilo’”, disse Flávia, emocionada ao revelar os detalhes daquele dia pela primeira vez.

Mas a última coisa… [chora] Eu falei para ele que eu e Kely [primeira filha de Pelé com Rosemary Cholbi] queremos fazer um trabalho social, um instituto. A Kely montou em Nova York, e eu estou trazendo para São Paulo. Vai ser o Instituto Família Arantes do Nascimento. A gente quer desenvolver projetos sociais relacionados ao esporte. Eu falei: ‘Pai, a gente quer fazer isso e quero que você fique muito feliz. A gente nunca vai te decepcionar’. Ele falou: ‘Não, eu que não quero nunca decepcionar vocês’”.

Ele foi uma pessoa muito especial, uma pessoa muito incrível. Eu falo que as conversas assim eram uma conversa de alma nesses últimos tempos. Ele nunca gostou de falar de morte. A gente falava: ‘Pai, vai embora, vai descansar. Tá tudo bem. A gente está bem’. Ele falava: ‘Eu tenho medo’. Eu dizia: ‘Não precisa ter medo. Você vai para um lugar maravilhoso. Tá todo mundo bem’. Mas ele tinha preocupação com todos nós, com os filhos, com a irmã dele [Maria Lúcia], com a mãe. E eu dizia: ‘Pai, é todo mundo adulto, tá tudo bem, descansa. Vai descansar’. Vê-lo do jeito que ele estava não era mais ele. Vocês sabem o quanto o Pelé era dinâmico. Esses dois anos na cadeira de rodas já não era mais ele. Ele estava bem. A Márcia [Aoki, terceira esposa de Pelé] foi sensacional. Cuidou dele absurdamente, mas não era mais ele. Uma pessoa que sempre que acordava ligava música, queria casa cheia. A pessoa tá vindo de um câncer, um tratamento que vai e vem, aquela quimioterapia que melhora, piora, passa mal. Isso para ele foi bem difícil. Ele enfrentou muito bem. Às vezes, era muito turrão, como todo mundo sabe. Às vezes, tinha que voltar para fazer quimio: ‘Não, não vou’. Tem que ir. ‘Mas não sinto nada. Por que vou fazer isso? Não sinto nada’. ‘Mas tem que fazer, pai, mesmo se não está sentindo nada’”, relembrou Flávia.

Em suma. Flávia encerra a entrevista comentando sobre a relação com os irmãos após a morte de Pelé, comentando a maneira onde a família se desdobra em homenagens ao Rei do futebol.

Essa corrida vai ser muito difícil porque ele vai estar muito presente. Todo mundo pensando nele, trazendo ele. Acho que vai ser mais uma festa e eu acho isso incrível. Tudo que ele faz movimenta em um super evento, então vai ser mais um. Pra mim não vai ser uma corrida como pra todo mundo. Vou ter que administrar meu emocional pra caramba”, finalizou Flávia à reportagem da ESPN.

Raphael Almeida Raphael Almeida

Jornalista 33 anos. Atualmente sou repórter e comentarista na Web Rádio Bate Fundo Esportivo. Redator no portal Minha Torcida com passagens por Premier League Brasil e Futebol na Veia.

[blocksy_breadcrumbs]